Utopia e profetismo em Fernando Pessoa
Procura-se mostrar a importância da “utopia” no pensamento de Fernando Pessoa, do ponto de vista das articulações dos diferentes planos da sua obra – pois esta noção atravessa-a por inteiro. A partir dos artigos d’ A Águia (1912), analisam-se os elementos embrionários do pensamento profético , do messianismo sebástico e da ideia de Quinto Império. Confronto entre razão e “inteligência analógica”. Que falta, então, para que a profecia do Quinto Império se constitua plenamente? Análise da crise de 1915 (cartas a Sá-Carneiro e a Cortes Rodrigues), essencial para a resolução do conflito entre neo-paganismo e teosofia/hermetismo. Características do Quinto Império: utopia, profetismo e “nacionalismo mystico”. As duas faces do pensamento profético, heteronímia e transcendência da verdade. Solução? – a metafísica do Mysterio, como plano geral do pensamento pessoano.
O Conto de Flaubert “A lenda de São Julião, o hospitaleiro” e o livro único de Amadeo
Em Abril de 1877, Gustave Flaubert publicou um pequeno volume intitulado Três Contos, em rigor, a sua última obra acabada. O segundo conto chama-se “A lenda de São Julião, o hospitaleiro”. Foi o primeiro a ser escrito, e numa celeridade inhabitual, entre Setembro de1875 e Fevereiro de 1876. É provável que isso se deva à familiaridade longuíssima e intensa que ele teve com a história do santo: “Esta é a história de São Julião Hospitaleiro, mais ou menos como é contada num vitral de igreja, na minha terra”. Nestas palavras finais do conto Flaubert convida o leitor a uma investigação hermenêutica.
Executadas durante a sua estadia na Bretanha no Verão de 1912 (muito provavelmente concluídas em Paris), ano de uma fertilidade imensa para o pintor, a cópia integral a pincel e a ilustração de Amadeo Souza-Cardoso correspondem àquele desafio, ao mesmo tempo que escapam à condenação que Flaubert fazia de qualquer propósito ilustrativo da sua obra e, em particular, deste conto.
Neste contexto, trata-se precisamente de considerar as subtis e secretas interferências que se soltam das palavras copiadas a pincel, dos desenhos e das pinturas, que compõem o “exemplar-único original” de Amadeo, procurando a sua decifração. Eis o que se fará.
José Saramago contra a utopia
Carlos Reis
Em “José Saramago contra a utopia” toma-se como ponto de partida a expressa negação, pelo escritor, da pertinência da utopia. “Não sou utopista”, disse Saramago numa entrevista.
É em função desta negação da utopia que se leva a cabo uma reflexão em torno da produção ficcional de José Saramago, dos grandes temas e dos principais motivos que nela podemos ler: a reinvenção da História, a viagem como busca, a desconstrução do mito e do relato bíblico, a condição humana e as suas perversões, etc. Ao longo deste trajeto, regista-se uma mudança importante no trabalho do escritor, que o próprio Saramago fixou em duas imagens fortes e alternativas: a da estátua e a da pedra.
Essas imagens, aqueles temas e motivos e ainda algumas personagens constituem pontos de referência de uma aula em que se falará da utopia como negação em José Saramago.
A existência pública de Shakespeare, autor de uma enigmática série de "sonetos açucarados", influentes poemas longos, e as mais bem-sucedidas peças de teatro do seu tempo, contrasta, nesta abundância, com a relativa escassez do conhecimento que temos da sua vida privada. Este reduz-se a documentos legais de compras de imobiliário, a um testamento com um intrigante legado conjugal, e a referências interessantes e vívidas que lhe são feitas por alguns poetas e dramaturgos rivais do tempo.
Este contraste expõe a obra literária de Shakespeare como a exposição mais íntima do seu autor, intuição esta condensada na afirmação de Teixeira de Pascoaes de que ninguém conheceu Shakespeare como Hamlet o conheceu.
Propôe-se, nesta sessão, através da análise de três textos de Shakespeare, dar corpo a esta apreciação crítica de Pascoaes.
Um abraço,
AF